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domingo, 1 de julho de 2012

Texto do Mestre Cobra Mansa

A Capoeira, como Mestre Pastinha disse, é tudo que a boca come.
É como o ar, sabemos que está lá, respiramos e precisamos dele; contudo, não podemos capturá-lo.
A Capoeira não pode ser limitada a um grupo de praticantes, por uma organização formal e muito menos por um grupo de Mestres que clamam o monopólio sobre ela.
A Capoeira vai além de todos nós. Nenhuma sociedade, comunidade, ou indivíduo jamais irá controla-la. Então, se praticamos a capoeira para nos afastarmos daquilo que ha de tradicional e repressivo dentro da sociedade e que desaprovamos tão fortemente, porque quereríamos institucionalizá-la?
Parece-nos um tanto contraditório, já que institucionalização significa seguir profundamente todos os protocolos e leis detalhadas da sociedade para que nos enquadremos nos esquemas administrativos e corporativos com alguma prática e sentido reais: independência fiscal, oportunidades de doações, coesão administrativa e grupal, etc...
Grupos diferentes de Capoeira, dentro da história e mais ainda nestas últimas décadas, tentaram criar uma instituição ou organização paralela somente para a Capoeira, e se tornaram tão restritas e repressivas como a instituição original da qual eles haviam tentado se afastar.
Em todas as partes do mundo nós vemos a corrupção e escândalos que instituições e indivíduos fazem. O sistema controla vários setores da sociedade com um número pequeno de pessoas tendo o monopólio absoluto sobre estes. Se olharmos para o Brasil como exemplo, vemos o carnaval e outras manifestações criadas pelo povo que foram institucionalizadas.
O povo que originalmente os criou foram os que mais perderam com isso. Antes de pensarmos em institucionalização da Capoeira, nós temos que perguntar por que querem nos organizar?
Porque quereríamos uma instituição para controlar o nosso estilo de vida? Quem vai ganhar com isso? A Capoeira? O capoeirista? Os burocratas? Será que estas instituições são realmente necessárias? Quem as controlara? Porque elas têm que ser tão repressivas, elitistas e ditatoriais?
Podemos confiar nestas instituições e nos seus líderes moralmente, financeiramente, fisicamente e espiritualmente? O que é que nós queremos? Nós queremos a institucionalização da Capoeira, ou uma comunidade de Capoeira que trabalhe com "o sistema" para obter honestamente o que precisamos sem nos inclinarmos para o que este sistema tem a nos oferecer?
Embora estejamos abertos para crescermos no espírito e conhecimento da Capoeira, queremos evitar a imposição de valores de um grupo de pessoas e burocratas que já tenham criado as suas próprias escalas de valores.
Queremos uma comunidade que celebre e encoraje a individualidade e a cooperação entre seus membros; uma comunidade mundial de capoeira que respeite diferentes valores, crenças, pontos de vista, práticas, etc.
Em resumo, o que queremos e uma comunidade que respeite as nossas diferentes estórias e histórias, as nossas vidas diferentes e o nosso crescimento em direções variadas para o seu próprio fortalecimento. Pois, é isto o que nós todos teremos para oferecer através do entendimento e do amor sob a prática e o espírito da capoeira.
Mestre Cobra Mansa.

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